Um dos maiores diretores e roteiristas de tv dos anos 90, Darren Star é a mente por trás de clássicos da televisão como a saudosa 90210 – Barrados no Baile (1990-2000) e a mundialmente aclamada Sex and the City (1998-2004). De volta ao centro das atenções, Star agora assina a criação de Emily em Paris, nova série da Netflix que estreou no último dia 2 de outubro.
Protagonizada por Lily Collins, Emily em Paris é uma minissérie de 10 episódios que conta a história de Emily, jovem gerente de marketing digital de uma multinacional de Chicago que é convidada a integrar o time de uma agência em Paris que acabara de ser integrada ao portfólio da empresa.
Desde que estreou, Emily em Paris divide opiniões entre aqueles que amaram o fato de o diretor ter abraçado todos os clichês possíveis e aqueles que não gostaram das soluções fáceis a que o criador recorreu para contar sua história. A seguir, vamos aprofundar um pouco mais esse debate.

Emily em Paris: choque cultural nas relações com o trabalho
Deslumbrada e muito simpática, a jovem Emily aceita um novo emprego que pode colocar sua carreira em outro patamar: assumir a vaga de gerente de marketing digital de uma agência especializada em clientes de luxo em Paris. Determinada, ela se muda para a França mesmo sem conhecer praticamente nada da cultura e nem da língua do novo país. Recorrendo ao tradutor do celular e a sua simpatia, Emily tenta não se deixar abalar pelos obstáculos, embora as coisas não saiam exatamente como ela esperava.
Um dos pontos mais positivos da série é mostrar o contraste entre a maneira como os americanos encaram o trabalho e o jeito como os franceses lidam com ele. “Vocês americanos vivem para trabalhar, nós franceses apenas trabalhamos para viver”, explica um colega de trabalho a Emily após a garota se chocar pelo expediente na nova empresa começar às 10h30 e não às 8h como ela estava acostumada em Chicago.
De fato, Emily não é bem recebida pelos novos colegas de trabalho. Eles a enxergam como uma ameaça americana que está ali apenas para tentar corromper o estilo de vida francês. Darren Star é perspicaz ao levantar essa temática, mas infelizmente ela não é explorada como poderia. De maneira muito sutil, Emily vai mostrando aos novos colegas que o estilo americano de lidar com o trabalho pode ter algo a ensinar aos franceses, mas esse debate não sai do raso.
Muitas pessoas não gostaram da maneira como Star abordou o estilo de vida francês, dando a entender que os franceses trabalham menos. Acredito que isso se deva justamente ao pouco aprofundamento que a questão teve ao longo da primeira temporada. Os colegas de trabalho de Emily tinham sim muito a aprender com ela, mas ela também tem muito a aprender com eles. Se a série tiver uma segunda temporada, será a chance de Darren Star revisitar esse assunto com mais substância.

Algumas lições de marketing digital que podemos extrair de Emily em Paris
Uma temática bastante explorada em Emily em Paris é a evolução do marketing e como algumas empresas ficaram paradas no tempo. A principal função de Emily na nova agência é mostrar como o marketing digital pode impulsionar as marcas quando executado com criatividade, mas o pessoal que ali trabalha ainda parece muito apegada ao jeito tradicional de se fazer marketing e publicidade.
Numa reviravolta muito interessante, Emily acaba se tornando seu próprio case de sucesso. Assim que chega em Paris, a jovem cria uma conta no Instagram que é alimentada a todo instante com novidades sobre sua estadia na cidade. O perfil atrai milhares de seguidores em poucas semanas, fazendo da garota uma das mais promissoras influenciadoras do momento.
É muito interessante como essa temática de antigo versus novo se desdobra em várias vertentes dentro da série. No ambiente de trabalho é onde ela talvez seja mais bem explorada. À medida em que precisa desenvolver campanhas digitais para os mais diversos clientes, Emily nos dá alguns insights interessantes que mostram que o segredo de uma boa campanha é se colocar no lugar do cliente.
Apenas uma coisa incomoda nesse aspecto: tudo é muito fácil para Emily. Até mesmo seus maiores problemas são facilmente resolvidos. O fato de a jovem propor ações provocantes e disruptivas e os clientes aceitarem com poucas ressalvas soa irreal. Quem já trabalhou com marketing sabe que isso nunca acontece na prática. A tarefa mais difícil da vida de um profissional de marketing é convencer um cliente a aceitar uma estratégia disruptiva.
Feita essa ressalva, é uma delícia acompanhar a execução e os resultados de cada ação proposta por Emily. É impossível não torcer pelo sucesso da garota.
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Clichês sim, e daí?
O que torna Emily em Paris tão irresistível é justamente aquilo que motiva a maioria de suas críticas: os clichês. Filmes e séries sobre pessoas que precisam se mudar para outro país e se adaptar à cultura local existem aos montes e se eles continuam a ser feitos é porque esse assunto ainda gera interesse no público. Se você se mudasse para Paris, também não seria um grande clichê ambulante? Desconfio seriamente daqueles que disserem que não.
Apesar de não trazer elementos narrativos revolucionários, Darren Star nos entrega uma história redonda, com uma protagonista muito carismática e as vezes até ambígua (principalmente nas relações amorosas), mas que conquista nossa torcida. Até mesmo os vilões da história (se é que podemos chamar assim) são tão humanos que vez ou outra nos pegamos torcendo por eles.
Em Sex And The City, Darren Star ganhou aclamação da crítica, venceu um Emmy e três Globos de Ouro e sua produção é sempre lembrada nas listas de melhores séries de todos os tempos. Sua cota de aclamação crítica já foi devidamente preenchida. Em Emily em Paris, Star quer apenas se divertir e quer que a gente se divirta junto com ele. Por que não?
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