Apesar de já ter algumas décadas de carreira, o diretor italiano Luca Guadagnino viu seu nome ganhar projeção mundial apenas em 2017, após dirigir o aclamado Me Chame Pelo Seu Nome, filme indicado a quatro Oscars. Desde então, é grande a expectativa quanto ao que o diretor fará daqui em diante. Uma boa mostra do estilo de direção de Guadagnino agora pode ser vista semanalmente na HBO, através do drama We Are Who We Are – produção que Guadagnino dirige e ajudou a criar.
O episódio de estreia de We Are Who We Are foi ao ar no último dia 14 na HBO e já trouxe diversos questionamentos, tanto de pessoas que gostaram do que viram quando daquelas que se mostraram um pouco mais cautelosas. A seguir, te conto minhas impressões sobre a produção e também sobre as comparações com Me Chame Pelo Seu Nome.
We Are Who We Are: o desabrochar da adolescência sob uma perspectiva amplificada
A premissa de We Are Who We Are é simples: Fraser (Jack Dylan Grazer), um jovem nova-iorquino de 14 anos, vê sua vida mudar completamente quando sua mãe Sarah (Chloë Sevigny) é convidada a assumir um posto de destaque em uma base militar americana no interior da Itália.
Forçado a se mudar para o local com a mãe e a madrasta Maggie (Alice Braga), Fraser se sente imediatamente deslocado. O choque de realidade é brutal e o garoto não sabe ao certo como reagir diante de um estilo de vida completamente diferente do qual estava acostumado.
O primeiro episódio introduz a história e nos apresenta a um grupo de jovens que Fraser conhece e que, ao que tudo indica, passará a ser seu núcleo social dali em diante. Logo no começo, o diretor Guadagnino deixa claro que, dentre aqueles adolescentes, há uma na qual devemos prestar particular atenção: a misteriosa Caitlin (Jordan Kristine Seamón).
Caitlin é uma jovem bonita, decidida e que desperta um fascínio imediato em Fraser, embora ele não consiga entender porquê. Ao longo do episódio, essa resposta vai se desenhando e percebemos que Fraser e Caitlin podem ter muito mais em comum do que incialmente parecia.
A escolha narrativa de Luca Guadagnino foi começar a contar sua história equiparando o que o protagonista sabe e o que nós sabemos: quase nada. Fraser passa o episódio inteiro caminhando pela base e pelas redondezas, descobrindo as pessoas que moram ali, as coisas que tem para fazer e as possibilidades que o lugar oferece. Como espectadores, descobrimos junto com ele, já que conhecemos tão pouco do local quanto o garoto.
À medida que o episódio de estreia avança, notamos como Fraser, apesar de muito jovem, exerce total controle sobre a mãe e a madrasta. Parece irreal que alguém tão jovem controle os pais daquela maneira, mas ao mesmo tempo é instigante tentar entender por que isso acontece – e por que elas permitem serem tratadas daquela maneira.
A personalidade do garoto é bastante rebelde e notamos traço de hiperatividade, mas ainda não conseguimos entender como alguém tão novo já aparenta ter tantos traumas internos. Essa falta de informações iniciais imediatamente nos leva a rejeitar o protagonista, pintado como mimado e exageradamente dramático. Mas como o diretor soltou pontas ao longo do episódio, é bastante claro que ainda é cedo para julgar Fraser, porque tudo indica que há muito mais do que foi mostrado.
No geral, o primeiro episódio da série provocou bastante, mas mostrou pouco. É característico do diretor desenvolver suas histórias em ritmo lento e podemos esperar o mesmo tipo de escolha narrativa em We Are Who We Are.
O que sobra são cenas contemplativas e muito destaque para a trilha sonora. Fraser quase não tira os fones de ouvido e, para tudo o que o garoto faz, há uma trilha de fundo. Guadagnino optou por um estilo de direção que dá destaque à personalidade do garoto, amplificando-a.
Em certos momentos, tanta provocação sem explicação começa a cansar o espectador (o episódio dura quase uma hora) e começamos a questionar se a construção de uma personalidade tão extrema foi proposital ou foi fruto da soma dos exageros do ator e do diretor.
Como disse mais acima, é cedo para dizer. Teremos mais sete episódios pela frente e a expectativa é que em breve a provocação divida espaço com algumas respostas. Quando entendermos melhor as motivações de Fraser, será mais fácil sentir empatia pelo garoto. Por hora, o que We Are Who We Are deixa na boca é um gosto agridoce de “talvez eu não tenha gostado” misturado a “estou ansioso para experimentar mais”.
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Comparações com Me Chame Pelo Seu Nome
Quando o trailer de We Are Who We Are saiu, muitas pessoas compararam a premissa da série com a história de Me Chame Pelo Seu Nome. De fato, são duas tramas que se passam no interior da Itália e são focadas em dois adolescentes maduros demais para a idade que têm, confusos quanto a suas sexualidades e que se atraem por pessoas mais velhas. Mas tirando essas informações, as duas produções parecem seguir por caminhos diferentes.
Enquanto Me Chame Pelo Seu Nome foca nos prazeres e desprazeres de uma paixão arrebatadora, We Are Who We Are parece mais interessado em fazer um recorte da adolescência como um todo – o que inclui relações amorosas e um monte de outras coisas.
Em Me Chame Pelo Seu Nome, os pais de Elio estão ali apenas como meros coadjuvantes (cujas histórias conhecemos por alto através de um ou outro diálogo). Já em We Are Who We Are, a família de Fraser tem bastante importância para a história e os conflitos gerados a partir da relação do garoto com as mães promete render.
Talvez ao longo da temporada notemos mais semelhanças entre as duas produções. Ou pode ser que os próximos episódios sirvam justamente para confirmar o quanto as tramas são diferentes. Nos resta acompanhar.
We Are Who We Are é transmitido toda segunda-feira na HBO e pode ser assistido a qualquer momento por meio do serviço de streaming do canal, o HBO Go.
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